Como você costuma se levantar no seu dia-a-dia?
Você levanta de manhã com rapidez, facilidade e cheio de energia?
Ou é aquela pessoa sem vida, sem entusiasmo?
Custa a acordar e se levantar de manhã.
Mas por que acontece isso?
Muitas pessoas seguem rigidamente os papéis que a sociedade cobra (pai, mãe, filho, marido, mulher, chefe, funcionário, etc.).
Esses papéis quando exercidos rigidamente o fazem perder a naturalidade, a espontaneidade e sua própria identidade.
É o caso da esposa que viveu por muitos anos em função do marido e, quando o perde, vai embora junto a razão de viver.
Perdeu também sua própria identidade porque se anulou, não sabendo mais quem ela é e o que quer da vida.
É o caso também da mãe que sempre viveu em função dos filhos, esquecendo-se dela mesma.
Entra em depressão profunda quando cada um toma seu próprio rumo.
O mesmo acontece com o pai que só se preocupou em ser pai à moda antiga e esqueceu de ser amigo dos filhos.
Depois, não consegue entender o porquê de os filhos não serem íntimos com ele.
O mesmo acontece com o gerente que veste (e nunca tira) a roupagem de chefe (durão consigo e com os seus subordinados), e se esquece do ser humano que é.
Quando perde o cargo, entra em profunda crise existencial.
Como tudo é obrigação, dever, você acaba perdendo a alegria e o encantamento pela vida.
O problema da grande maioria dessas pessoas é não saber mais do que gosta na vida, o que lhes dá prazer.
Buda dizia que o apego é um dos causadores do sofrimento.
Quando você se apega excessivamente a um problema, acaba não vendo mais nada, e, consequentemente, não vê a solução.
Para ver, é preciso desfocar, isto é, afastar-se do problema e desapegar-se momentaneamente dele.
Já te aconteceu quando você tentou de todas as formas possíveis encontrar uma solução para o seu problema e, quando você esfriou a cabeça, se desligou, a resposta veio?
Veio porque você se desapegou.
Da mesma forma, você pode desempenhar os múltiplos papéis sociais em sua vida, sem se apegar, sem precisar mudar o seu jeito de ser.
A sociedade cobra certos comportamentos esperados de determinados papéis.
O que é esperado de uma mulher casada?
Ela precisa ser recatada, não pode mais beijar os amigos, ser brincalhona como sempre foi quando era solteira.
O que é esperado de um médico?
Ele precisa ser sério (até mesmo sisudo) para ser visto como um profissional competente, responsável e, portanto, confiável.
Há médicos tão presos ao seu papel que tratam apenas da doença e se esquecem de cuidar do ser humano que está por trás da doença.
Mas muitos são extremamente carinhosos e brincalhões com os seus pacientes; outros, nem olham para os enfermos.
A intimidade e o bom humor com os pacientes, muitas vezes, permitem uma cura mais rápida ou até mesmo aliviam a dor deles.
Veja o trabalho dos “Doutores da alegria”, que com o seu humor melhoram a qualidade de vida dos pacientes nos hospitais, principalmente das crianças portadoras de doenças graves.
Não podemos perder a nossa alma, a nossa essência, o jeito de ser.
O apego excessivo a esses papéis nos leva a aprisionar as nossas almas, nos tornam rígidos, desvitaliza a nossa energia vital, e acabamos envelhecendo precocemente.
O segredo da vitalidade consiste em gostar de viver e ser feliz em tudo o que fazemos, sem nos apegarmos excessivamente aos papéis sociais.
Caso Clínico: Insatisfação com a Vida Mulher de 40 anos, solteira, ela me procurou pelo fato de viver insatisfeita consigo e com a vida. Faltava um sentido de vida, vivia por viver.
A depressão era uma constante e não tinha consciência do motivo dessa insatisfação. Sua vida se resumia em casa e trabalho.
Havia um desânimo muito acentuado em função dessa insatisfação.
Era muito dura consigo mesma e com os outros, vivia se criticando e criticando os outros e sentia-se culpada, sem motivo aparente.
Era uma pessoa extremamente perfeccionista, procurava fazer as coisas de forma certa e não admitia erros.
Se algo não desse certo, caia numa profunda depressão e sentimento de culpa. Tinha também constantes acessos de tosse.
Embora tivesse procurado vários especialistas, não obteve sucesso no tratamento. Os médicos diagnosticaram sua tosse como sendo de origem emocional.
Em sua primeira sessão de regressão, começou a tossir e dificuldade de respirar, e se viu numa vida passada deitada num leito com vários médicos à sua volta.
Vestia uma roupa branca de hospital, tinha cabelos pretos, era magra, franzina, aparentando ter uns 30 anos de idade. Estava muito debilitada, sem forças.
Pedi-lhe que prosseguisse na cena e avançasse mais adiante.
Ela se viu dentro de um carro: “Sofri um acidente, vejo as ferragens, estou dentro do carro, está tudo escuro.
O carro está pegando fogo... A fumaça está muito intensa.
Estou inalando essa fumaça (volta a tossir fortemente).
Parece que têm mais gente comigo. Estou preocupada com alguém. Parece um bebê... É o meu bebê! (começa a gritar e chorar).
Ele morreu! Eu estava dirigindo. Eu devo ter matado o meu bebê”.
Ela chora copiosamente e diz ter sentido muita culpa por ter provocado esse acidente.
Em seguida, ela se vê novamente no leito do hospital e prossegue no relato de sua vida passada: “Estou segurando o meu bebê morto nos meus braços, deitada na cama. Estou acariciando-o.
Vem alguém e o tira de meus braços... É a enfermeira que o leva embora”.
Peço-lhe que prossiga na cena e adiante mais para ver o que foi que aconteceu com ela?
Ela me relata: “Continuo no hospital, sentada no leito, cabisbaixa e chorando muito. É muita dor, sentimento de perda, solidão, angústia e culpa”.
Ela identifica o pai da criança como sendo um colega que trabalha com ela na vida atual.
“É uma pessoa que nutro um sentimento muito forte”, comenta.
Prossegue em seu relato: “Estou no cemitério, fraca, alguém está me amparando. Estou indo para o enterro de meu bebê.
Estou muito magra, uso a mesma roupa do hospital, uma camisola branca. O pai da criança está comigo.
Vejo o caixão do nenê, é branco. Caminho em direção à cova. Tem um gramado, vejo muitas cruzes. Estou muito triste”.
Peço-lhe que me diga qual o país e o ano em que ela viveu nessa vida passada?
Ela me diz: “Suécia é o país que veio na minha mente, e o ano é 1930.
Agora entendo o motivo de me sentir tão culpada na vida atual.
Entendo também o porquê de ser tão crítica comigo e de ser perfeccionista. Eu não me permito errar. Tenho que fazer tudo certo.
Na verdade, ainda estou me cobrando e me culpando pela morte do meu bebê.
Eu me sinto culpada pelo fato de não ter conseguido salvar à criança.
Continuo carregando essa culpa na vida atual.
Fica claro também a causa dessa crise de tosse, essa falta de ar que costumo sentir.
No acidente, vi muita fumaça preta, o carro pegou fogo e perdi a direção na estrada, à noite, e caí na ribanceira.
Estava dentro do carro com a criança nos braços, desesperada, gritava por socorro. Por fim os bombeiros nos socorreram.
Eu sempre acho que a culpa é minha quando algo dá errado. Vem sempre o pensamento: “Fui eu que não fiz a coisa certa”.
No final da sessão, eu sabia que havíamos atingido o nosso objetivo, isto é, que descobrimos a verdadeira causa de sua insatisfação, sentimento de culpa e as crises constantes de tosse.
Mas, foram necessárias mais cinco sessões de regressão, para que ela regredisse àquela vida e passássemos e repassássemos cada trecho do acidente e se desvinculasse por completo da morte de seu bebê.
No findar da última sessão, ela conseguiu descrever a cena com absoluta serenidade e objetividade.
Desta vez, ela reagiu às recordações do acidente não mais com tristeza e sentimento de culpa, mas, como um fato que ocorrera em sua vida passada, e que não tinha mais nenhuma ligação com a vida presente.
As crises de tosse que ela sentia constantemente, desapareceram por completo, e não mais sentia depressão e sentimento de culpa.
Ela passou também a reformular suas atitudes em relação ao seu perfeccionismo, sendo mais tolerante consigo e com as pessoas.
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