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Foto do escritorOsvaldo Shimoda

Depressão mascarada

Até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante em todo o mundo. São os novos dados divulgados pela O.M.S(Organização Mundial da Saúde).

Hoje, o Brasil é considerado o campeão de casos na América Latina.

A depressão pode vir após um acontecimento traumático, geralmente a perda de um ente querido, o fim de um relacionamento amoroso, a perda do emprego, de poder aquisitivo, perda da beleza, do vigor físico e sexual, perda da saúde, etc.

Quando a depressão ocorre, após um acontecimento traumático, chamamos de reativa. Quando aparece sem um motivo aparente, leva o nome de endógena.

Os sintomas mais comuns da depressão são:

- Apetite diminuído ou aumentado; - Insônia ou excesso de sono; - Fadiga constante, irritabilidade; - Baixa auto–estima (sentimento de desvalorização); - Lentidão de raciocínio, memória, atenção (incapacidade de se concentrar); - Desânimo, desinteresse pela vida, desesperança, sentimento de inutilidade, sentimento de culpa; - Crises de choro ou de lamentação; - Agitação, ansiedade excessiva (Pode indicar um suicida em potencial).

Mas, nem sempre a depressão se manifesta na forma desses sintomas acima mencionados.

Há pessoas que reprimem fortemente a tristeza, mascarando-a, por exemplo, após a perda de uma pessoa querida (morte ou separação).

É o que chamamos de Depressão Mascarada.

Na nossa cultura, é comum os homens negarem que estão deprimidos.

Muitos dizem que estão cansados, ao invés de admitirem e dizerem: - Estou triste! Ficam agressivos, ao invés de demonstrar tristeza.

Há um preconceito, ainda muito grande, dos homens demonstrarem tristeza, pois, em sua maioria, não se permitem chorar, principalmente em público. E, se choram, pedem desculpas, ficam constrangidos, procurando se justificar.

Existem 5 emoções básicas, autênticas, legítimas, inerentes ao ser humano, pois, nascemos com elas: medo, tristeza, alegria, raiva e afeto.

A nossa educação foi baseada no binômio: permissão e proibição em cima dessas 5 emoções.

Ou seja, ao homem foi permitido sentir e demonstrar alegria, raiva, mas, proibição para sentir e demonstrar medo, tristeza e afeto.

Por isso, muitos homens, quando sentem medo, ficam agressivos e não admitem que estão com medo.

Na verdade, essa agressividade é uma forma de mascarar, disfarçar o seu medo, insegurança.

Por outro lado, à mulher foi permitido, isto é, foi educada a sentir e expressar medo, tristeza, afeto e alegria – embora, em outros tempos, ela não pudesse expressar livremente a raiva e a alegria, dar gargalhadas, pois precisava se comportar de forma não vulgar, como uma “moça de família”.

Por conta desse processo educacional opressivo, a depressão pode estar mascarada nas crianças sob forma de irritabilidade e agressividade.

Nos adolescentes, a depressão pode se manifestar sob forma de uso de drogas, álcool ou até mesmo como delinquência.

Em muitas famílias, não há permissão para o adolescente expressar alegria e afeto, pois os pais não costumam dar boas gargalhadas e demonstrar afeto, ternura.

Nessas famílias, há uma verdadeira “economia de afeto e alegria”.

Por outro lado, há permissão para ofensas, agressividade, criticismo acentuado e pouco espaço para diálogo, compreensão, momentos de intimidade, apoio, incentivo e elogios sinceros.

Na fase adulta, a depressão pode ser mascarada sob forma de excessos alcoólicos, drogas, comida, sexo, jogos, vício em trabalho, ou em forma de “máscara sorridente” e “aparente felicidade”.

Tratei de um paciente que sofria de depressão mascarada, cujo apelido em seu trabalho era “garoto propaganda”, porque vivia sorrindo. Nunca demonstrava tristeza ou mesmo raiva (veja esse caso que relato no final desse artigo).

Há pessoas que, após uma separação, não se permitem entrar em contato com a perda, com a tristeza.

É natural, com a separação, sentirmos tristeza; no entanto, essas pessoas reprimem fortemente a tristeza, trabalhando feito um louco, podendo se tornar um viciado em trabalho (workaholic).

O trabalho passa a ser uma fuga, uma forma de não entrar em contato com a perda. Mas, quando param de trabalhar, entram numa profunda depressão.

Aqui explica, em muitos casos, o porquê dessas pessoas adiarem em procurar auxílio de um profissional, de um psicoterapeuta.

Afinal, passar por um processo terapêutico, implica em entrar em contato com os seus verdadeiros sentimentos.

Do ponto de vista orgânico, a depressão pode também estar mascarada em forma de sintomas psicossomáticos, tais como dores de cabeça constantes, fadiga, dores lombares, náuseas, vômitos, úlcera, colite e alergias diversas.

Às vezes, as dores andam, migram, de um lado para outro no corpo (podem ter como causa uma interferência espiritual obsessora).

Muitos suicídios ou tentativas de suicídio inesperados e aparentemente inexplicáveis, são devidas às depressões mascaradas.

Uma pessoa pode ter uma dor de cabeça por anos a fio e certo dia tentar um suicídio. Em muitos casos, essas pessoas podem ser consideradas hipocondríacas, passando por vários médicos, fazendo exames e não encontrando nada.

Na verdade, todo depressivo é um decepcionado. A vida está lhe devendo. Daí a sua insatisfação. A pessoa depressiva sempre vê o que não têm e não se permite olhar para o que já tem, para suas conquistas.

É uma pessoa emburrada, se fecha porque guarda e carrega dentro de si muitos “lixos” emocionais (mágoas, decepções, ressentimentos, desilusões), os bagaços de seu passado.

Muitas mulheres me perguntam o porquê de suas vidas amorosas estarem péssimas.

Respondo que elas carregam uma quantidade enorme de mágoas, desilusões do passado, que bloqueiam e impedem de atrair parceiros e situações favoráveis.

Por conta disso, só atraem homens violentos, complicados, problemáticos, casados, com problemas financeiros, que não querem saber de nada, etc.

Portanto, é preciso “desatar os nós energéticos” (lixos emocionais) de seu passado, seja desta ou de outras vidas, que estão impedindo que suas vidas afetivas fluam de forma mais livre.

Muitos pacientes depressivos me perguntam também: “Por que sofro tanto”?

Eu digo: - Você sofre porque está na ilusão, dormindo na ilusão, e não quer acordar. E o sofrimento tem uma função: É um sinal, um indicador do quanto você resiste em querer mudar.

E, se você está na teimosia, resiste, quer continuar assim, colherá a desilusão cedo ou tarde. Teimosia é continuar com o que não funciona em sua vida.

A pessoa teimosa normalmente nega que é teimosa, que persiste nos mesmos erros, mas, afirma que é persistente, determinada, embora todos que convivem com ela, dizem o contrário: é uma “mula”.

Mas qual a diferença entre teimosia e persistência?

Uma pessoa persistente é capaz de rever o que não funciona em sua vida, pois tem humildade de encontrar os seus erros e corrigi-los, o que não ocorre com uma pessoa teimosa, que persiste nos mesmos erros, pois lhe falta a humildade de rever o que não funciona.

A dor, é, portanto, um sinal de que o que você está fazendo consigo não está sendo legal. E todos nós somos responsáveis pelo nosso próprio bem-estar.

Por isso, para se sentir bem, é preciso sair da ilusão de culpar as pessoas, a vida e o destino e reassumir a capacidade de dirigir sua própria vida.

Na verdade, o problema está em sua cabeça e não na situação. É a forma como você percebe os fatos da vida.

As pessoas felizes, normalmente, valorizam os aspectos positivos dos acontecimentos e não dão muita importância aos fatos desagradáveis da vida. É uma questão de postura diante da vida.

Caso Clínico:

Depressão Mascarada

Homem de 35 anos de idade, solteiro. Procurou a T.R.E(Terapia Regressiva Evolutiva) porque sentia uma certa apatia e dificuldade de concentração no seu trabalho.

Seu apelido no trabalho era “garoto propaganda”, porque vivia sorrindo e nunca demonstrava tristeza ou mesmo raiva.

Na entrevista de avaliação, que costumo agendar com os pacientes antes de iniciar o trabalho de regressão, compreendi o porquê de seus colegas de trabalho o apelidarem de “garoto propaganda”.

Mesmo relatando os acontecimentos dolorosos de sua infância, ele continuava “sorrindo” como se tivesse colocado em seu rosto uma “máscara sorridente”.

Essa máscara me fez lembrar o Coringa (personagem vilão que vive rindo de forma debochada no filme americano “Batman”, o homem morcego).

Pude constatar, após a regressão de memória, que esse “sorriso” constante não era um sorriso genuíno, verdadeiro.

Na verdade, ele sofria de Depressão Mascarada.

Essa aparente “alegria” estampada em seu rosto, era um disfarce, uma máscara para ocultar uma tristeza e raiva profunda.

Evidentemente, antes de passar pela regressão, ele não tinha consciência que era uma pessoa depressiva e raivosa. E que sua apatia e a falta de concentração faziam parte de seu quadro depressivo.

Na regressão de memória, ele se viu na vida atual, em sua infância, quando tinha 5 anos de idade, brigando com o seu irmão de 3 anos.

Ele pedia insistentemente ao seu irmão para que devolvesse seu brinquedo preferido, mas este não o atendeu.

Num acesso de ira, o paciente pegou o brinquedo da mão do irmão e o agrediu, batendo em sua cabeça.

A mãe, ao presenciar a agressão, o pegou pelo braço bruscamente e lhe disse: “Não pode sentir raiva de seu irmão. Vai lá e o abrace e ponha um sorriso no seu rosto! Vamos!”.

E foi o que ele fez. Deu-lhe um abraço “fraterno”, “sincero”, “carinhoso” e um sorriso “radiante”.

Perguntei o que ele estava sentindo ao relatar esse incidente de sua infância?

Ele me respondeu secamente: “Nada!”

A essa altura, seu corpo, rosto e mandíbulas estavam todos contraídos. Seus punhos estavam completamente cerrados.

Repeti novamente a pergunta e recebi a mesma resposta.

Então, pedi para que ele repetisse várias vezes a palavra “raiva” (é uma técnica psicanalítica, uma catarse, que funciona como um gatilho disparador para que o paciente aflorasse e entrasse em contato com a raiva reprimida pela sua mãe em sua infância).

No início, ele o repetia bem baixo, quase inaudível.

Então, eu lhe disse propositadamente: “Fale mais alto! Não estou escutando!”.

E cada vez que ele repetia a palavra “raiva”, eu dizia que não estava escutando direito.

Até que, não aguentando mais, ele começou a gritar alto, chorando copiosamente, soluçando, dizendo que estava com muita raiva de sua mãe pelo fato dela sempre o obrigar a abraçar o seu irmão quando os dois brigavam.

Esperei que ele parasse de chorar e lhe disse carinhosamente: “É natural sentir raiva de sua mãe pelo fato dela lhe obrigar a sorrir e abraçar o seu irmão, quando, na verdade, você estava sentindo muita raiva dele. Com isso, ela estava lhe ensinando a sentir uma falsa alegria (sorriso) e um falso afeto(abraço). Portanto, você não podia sentir e nem tampouco expressar raiva”.

Ao lhe pedir que prosseguisse na cena de sua infância, ele percebeu também que não podia sentir tristeza.

Quando seu cachorro faleceu, sentiu uma profunda tristeza.

Sua mãe lhe disse: “Pare de chorar! Que coisa feia! Eu compro outro cachorro. Vamos, bote um sorriso em seu rosto e enxugue essas lágrimas!”

Dentro do processo educacional, muitos pais não ensinam seus filhos a diferenciar o ato de sentir e agir, ou seja, que existe uma diferença entre sentimento e ação.

No caso desse paciente, sua mãe, ao invés de obrigá-lo a dar um abraço no seu irmão, poderia ter lhe dito: “Vejo que você está com raiva de seu irmão porque ele pegou o seu brinquedo preferido, mas você não precisava agredi-lo, machucando-o”.

Com essa colocação, sua mãe estaria lhe ensinando a diferença entre sentimento e ação, ou seja, uma coisa é sentir raiva e outra é agredir.

Ele aprenderia que não é errado sentir raiva, mas, agredir, machucando alguém, não é correto, pois existem outras formas de conseguir o que quer e de expressar seus verdadeiros sentimentos.

Portanto, dentro desse processo educacional opressivo, aprendemos que existem categorias de emoções consideradas como “perigosas”, tais como: excitação sexual, ciúme, inveja, medo, tristeza.

Aprendemos que é “feio” sentir excitação sexual, inveja, ciúme e raiva dos outros. E, com essas proibições, acabamos suprimindo, recalcando essas emoções autênticas, inerentes aos seres humanos.

Expliquei ao paciente que a raiva, quando bem administrada, é altamente saudável.

Por outro lado, quando ela fica reprimida, parada no estômago, pode gerar as chamadas doenças psicossomáticas, tais como: úlcera, gastrite ou mesmo câncer.

Neste mundo globalizado e competitivo, se você não usar a energia da agressividade, coragem, ousadia em seu trabalho e em sua vida, não sobrevive.

Muitas vezes, a falta de interesse, de vontade, de motivação, são sintomas de medo e insegurança.

Ou seja, são pessoas medrosas, inseguras que aprenderam a recalcar a energia da agressividade.

Tornam-se pessoas passivas, inoperantes, sem nenhuma iniciativa, chegando a sentir apatia e desinteresse pela vida porque foram muito reprimidas. É o caso desse paciente.

Após passar por mais 5 sessões de regressão, pude constatar significativas mudanças em seu comportamento.

Percebi que ele estava mais solto, espontâneo, mais verdadeiro, mais firme nas suas atitudes, dizia a palavra “não” quando não estava a fim de fazer algo, sem culpa ou arrependimento.

Antes, cultivava sentimento de culpa, ao contrariar alguém e acabava pedindo desculpas, mesmo estando certo.

Ele aprendeu nessa terapia a sentir e expressar raiva e tristeza sem utilizar os seus disfarces antigos de falsa alegria e falso afeto, demonstrando-as verdadeiramente, e a apatia e falta de concentração foram substituídas por entusiasmo e verdadeira alegria.

Aquela “máscara sorridente” em seu rosto, desapareceu.




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